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Crítica O Poço- Entenda a maior teoria sobre o final do filme!

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Cena do filme O Poço Netflix

A nova produção espanhola da Netflix traz uma trama surpreendente cujo final merece ser debatido para você que já assistiu ao filme

Análise nesse momento SEM SPOILERS

O Poço ( El Hoyo), nova produção da Netflix da Espanha estreou nessa semana e já está causando um certo burburinho entre as pessoas que já conferiram o filme. A trama vem sendo debatida com seus empasses em questões sociais e de desigualdades e ao mesmo tempo bíblicas. Entretanto, todas essas análises e especialmente em seu misterioso final serão discutidas mais para frente nessa crítica.

QUAL A HISTÓRIA DESSE MISTERIOSO FILME?

A trama dirigida por Galder Gaztelu-Urrutia, que com esse filme estreou na direção mostra um local onde é dito que as pessoas vão por livre e espontânea vontade e são colocadas em espécies de andares onde dependendo do número do andar ao qual estão inseridas, podem pegar a sobra da refeição dos andares de cima, desenvolvendo assim a primeira premissa do filme que seria a questão da ganancia humana. Ou seja, conforme a comida vai descendo pelos andares menos alimentos restam para aquelas pessoas que estão vivendo nos andares inferiores.

É a partir desse momento em que somos apresentados ao protagonista da trama Goreng (personagem interpretado por Ivan Massagué). O papel dele esta destinado a se questionar sobre o que está de fato acontecendo, como aquela máquina opera e suas regras. Tirando assim as nossas dúvidas como espectador sobre os acontecimentos misteriosos até aquele ponto da trama.

Toda pessoa que vive em no andar tem um companheiro, nesse caso Goreng tem no primeiro momento, Trimagasi( Zorion Eguileor) que nesse ponto serve para responder todas as dúvidas que o protagonista tem e que o espectador também tem.

O POÇO como funciona?

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Imagem com a cena do filme O POÇO Netflix

A cada mês as pessoas presas trocam de andar, então cabe da sorte se você vai estar em um andar superior. Portanto, assim poderá comer o resto dos outros ou para azar estar em um andar inferior e assim praticamente não ter do que se alimentar no restante do mês. Muitos se suicidam ao descobrir o real andar onde estão e outros cometem atos mais perversos como o canibalismo com seu companheiro de espaço.

O filme tem um bom ritmo de trama, consegue colocar uma dose de suspense durante os minutos que faz com que o espectador se prenda na frente angustiado em descobrir o que pode acontecer.

Uma ótima direção misturada com boas atuações do desconhecido elenco espanhol e personagens que vão surgindo a todo momento de forma com que não fique perdido nas situações que vão se desenrolando. Vale muito a pena dar essa oportunidade e valorizar outros estilos de cinema que vão surgindo cada vez mais audaciosos em contar uma história.

NOTA: 8 DE 10  

SPOILERS A MAIOR TEORIA SOBRE O FINAL POÇO

Vamos aos pontos que estão causando maior debate na internet no momento sobre a reta final de O Poço. A partir do momento em que Goreng encontra seu próximo companheiro de cela, Baharat (Emilio Buale) e ambos decidem descer todos os andares até chegar no fim e assim tentar o contato com quem controla toda aquela estrutura, no caso a dita Administração.

Durante o filme, somos apresentados a uma personagem a qual a única informação que se tem sobre ela, é que a mesma procura uma filha descendo todos os dias até encontrá-la. Uma pessoa bem violenta e que enfrenta qualquer um que tenha impedí-la.

Enquanto Goreng e Baharat descem (a princípio o local tem 250 andares abaixo até o seu fim), eles encontram um personagem conhecido de Baharat que lhe dá uma idéia para chamar ainda mais a atenção: deixar uma mensagem para essa tal administração, no caso eles escolhem uma comida que servirá como recado.

Entretanto, no final de sua jornada, eles descobrem que existem mais andares inferiores (333 para ser mais exato) e encontram nesse andar a criança, a filha da mulher que estava a sua procura. E decidem alimentá-la com a última comida que sobrou e torná-la a mensagem final. E assim, a criança sobe com a estrutura para ser quem sabe o alento de sobrevida para todos aqueles que estão ali sofrendo por todos esses meses.

Os boatos e teorias sobre O POÇO

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Mesa com alimentos do filme O POÇO Netflix

O filme despertou muitos boatos e teorias sobre o que de fato seria a mensagem simbólica a qual o enredo tenta passar para o espectador e no meio de várias dessas teorias, uma delas chamou a atenção, como podemos ver abaixo:

Além da trama inteira representar o poço como uma estrutura de nossa sociedade atualmente, com a diferença das classes sociais aliados a ganancia do homem em poupar alimentos para o próximo que está abaixo dele. A teoria que causa mais impacto é referente ao papel do protagonista que seria no caso Jesus que é enviado ao purgatório( representado pelo poço), onde todas as almas buscam ascender ao paraíso e nunca ir ao inferno.

A administração que cuida e prepara os alimentos para todas aquelas almas seria Deus cuidando de tudo e a garota do final do filme seria a esperança, sendo ela a última que morre e sendo levada de Jesus, o salvador para os céus para alertar Deus do sofrimento das almas ali presas e esperando o seu fim.

O poço que é de 2019 e só chegou agora ao streaming mostra bem o lado cruel do ser humano. A ideia geral passada é “pegar para si apenas o que é necessário, deixando também para os outros que precisam“.

Ou seja, é uma das frases utilizadas por uma das protagonistas. Portanto, logicamente deve ter várias e diversas interpretações sobre o seu real conceito e no que ele quer passar para o espectador que está assistindo. Vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões sobre aquilo que é real e o que não é.

Ficha Técnica: O Poço (Original Netflix)

  • Título Original: The Platform
  • Duração: 94 minutos
  • Ano produção: 2019
  • Estreia: 20 de março de 2020
  • Distribuidora: Netflix
  • Dirigido por: Galder Gaztelu-Urrutia
  • Classificação: 18 anos
  • Gênero: Suspense
  • Países de Origem: Espanha

Written by Mau

Comentários

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  1. O final não faz muito sentido, e acho q a menina é uma ilusão, pois não tem como ela está no lugar mais fundo do poço e permanecer bem alimentada e limpa.
    Porém, mesmo sendo uma ilusão a menina representa a pureza e só ela é digna de ir pro Nível 0, nível que representa o Céu (paraíso)… e o nível mais baixo, o 333, metade de 666, representa o inferno… E o Goreng sabe q aquele é seu lugar depois de tudo q fez.
    Além disso, fica claro as definições de classe sociais, e o comportamento das pessoas diante delas, quando estão em níveis mais altos, não importam tanto com quem está em baixo.

  2. Particularmente, entendo que o filme retoma algumas discussões sobre teoria da revolução, muito em voga no século passado (mas que começam a se tornar incrivelmente atuais agora).

    Inicialmente, observo que o poço (a estrutura em si) não representa toda a sociedade, mas parte dela, pois há estratos que estão fora do poço. Todos na estrutura ascendem ou descendem a cada mês, mas continuam dentro dela. Têm a esperança de sair, mas ao longo do filme, ninguém efetivamente a deixa.

    Como protagonista, temos o intelectual quixotesco (aliás a dupla Goreng/Trimagasi é uma alusão direta a Quixote/Sancho, inclusive na aparência) que, para expurgar seus “vícios”, voluntaria-se a descer a uma estrutura da qual, em princípio, está a salvo (é o bem-intencionado intelectual que deixa a universidade para “fazer a revolução” junto às classes oprimidas, das quais tem uma visão idealizada).

    Enquanto o quixote Goreng, ao se deparar com a realidade (“se trata de comer”), imediatamente tenta aplicar sua teoria revolucionária (a solução teórica pronta para uma sociedade injusta), o sanchesco Trimagasi, aceita a realidade sem questionar. Para ele, tudo é como sempre foi e não vai mudar. Tudo é certo, óbvio. Seu pragmatismo, oposto ao idealismo do protagonista, o leva a ser eficiente na arte de sobreviver, mas ineficaz em mudar a essência de sua realidade.

    Em seguida, vemos a personagem que desce todo mês às profundezas em busca de sua filha, sempre matando o companheiro de cela para melhorar suas chances estatísticas. A enxerguei como a personificação da violência autonomista. A inafastável necessidade individual de Miharu não permite que ela se dê ao luxo de articular uma solução geral. O intelectualismo revolucionário representado por Goreng flerta com a violência autonomista de Miharu (e até sonha com ela). Ambos podem ser aliados pontuais, mas não podem estabelecer uma ligação duradoura.

    Então, temos Imoguiri, que após dedicar a vida inteira ao sistema, acreditando na sua justiça, se dispõe a corrigir o que acredita serem “falhas”. Imoguiri é uma reformista, que se dispõe a descer ao inferno (que bem conhece), mas levando um “cachorrinho de madame”, ou seja, querendo manter uma certa pureza intocada. Logo a violência real desfaz suas ilusões e a reformista se sacrifica em prol da continuidade do ideal(ista) revolucionário. Algo que pode ser questionado a partir de Imoguiri é que, talvez, a Administração, em si, não é a responsável pelo Poço, mas apenas quem o mantém, administra (como o Estado servindo à elite econômica).

    Mas Goreng, à medida que desce na estrutura, já não mantém a mesma pureza (só possível na teoria não aplicada). A cena em que ele come as páginas do “Quijote” é cheia de significado (todo seu conhecimento teórico não lhe vale nada diante da crueza da fome.

    Então, ele encontra Baharat, que vem dos andares de baixo subindo degrau por degrau (um literal alpinista social). Como Miharu, ele busca uma solução individual, pois a falta de conhecimento teórico sobre a lógica da estrutura, impede que proponha uma solução geral. Ao entrar em contato com Goreng e seu ideal revolucionário, Baharat logo o abraça. Baharat, na minha visão, é o proletariado, que abraça o ideal revolucionário trazido pelo intelectual, sendo quem efetivamente o defende e tenta aplicá-lo (a práxis revolucionária).

    O sábio que encontram em sua decida é outro tipo de intelectual. Se Goreng caminha da teoria para a prática, o sábio representa o conhecimento forjado a partir da experiência na luta (reflexão sobre ação, como dizia Freire). É o intelectual orgânico do proletariado – o conhecimento acumulado nos movimentos e organizações de classe. No breve encontro entre ambos, toda a estratégia revolucionária é redefinida. Não se trata mais de modificar a vida dos que vivem na estrutura, mas de atingir os que a mantém, fazê-los olhar para baixo.

    A mensagem (a panacota intocada) é a demonstração de que o proletariado, mesmo sob as terríveis condições em que vive, pode fazer elevar algo belo e puro aos andares mais altos (como a flor que furou o asfalto).

    Contudo, à medida que a plataforma segue descendo a andares que julgavam inexistir (são desconhecidos pois ninguém volta deles) o ideal (Goreng) vai morrendo e o proletariado (Baharat) vai ficando mais fundamentalista para conseguir manter a mensagem (que ganha ares divinos). Pra mim, isso simboliza o ideal, antes racional, tornando-se messiânico à medida que as condições se degeneram.

    Creio que o significado do desfecho seja de que todas as formas já tentadas de transformar a estrutura social (a violência autonomista, o reformismo, a revolução idealizada e até mesmo a práxis revolucionária das organizações de classe) são ineficazes (o ideal morre de inanição no fundo do poço, após o proletariado ter se sacrificado na luta) e que a solução é algo novo. A garota não é apenas uma criança (no sentido de “as próximas gerações”), mas uma criança totalmente absurda, que sobrevive sozinha no último nível, que todos diziam ser impossível, fruto da loucura violenta de Miharu (a mais extremista das alternativas mostradas).

    Interpreto, assim, que o final do filme prenuncia a ascensão de uma nova alternativa revolucionária que, embora tenha sido alimentada pelo proletariado, não depende do velho ideal revolucionário (“a mensagem não precisa de portador”), algo que parece impossível e que, no entanto, existe.

    • Parabéns Fagner pela interpretação. Na minha opinião foi a melhor de todas, inclusive acho que ela devia vir acompanhada ao filme, para que as pessoas possam entende-lo melhor.

  3. Perfeito, essa é a interpretação correta. Vai além das ideias rasas que os “especialistas” estão fazendo resumo.